Morgenthau e Roosevelt queriam, realmente, se vingar da
Alemanha e, também, do Japão. Mas, após a morte de Roosevelt, os líderes
ocidentais se deram conta de que tal política produziria descontentamentos, revoltas,
crescimento dos partidos comunistas, desestabilização e até tomada de poder nas
democracias vitoriosas. Seria tremendo erro geopolítico.
O Komintern (Comunismo Internacional) foi criado por Lenin
para supervisionar e promover a criação e expansão de partidos comunistas em
todos os países, sendo extinto em 1943, às vésperas da reunião de cúpula de
Teerã, entre Stalin, Roosevelt e Churchill, como gesto de boa vontade com as
potências ocidentais. No entanto foi substituído pelo Kominform em 1947 com
finalidades semelhantes, até sua dissolução em 1956 quando a complexidade e
independência dos partidos comunistas nacionais, principalmente o francês e o
italiano obrigou o PCUS a tratar diretamente, caso a caso, com seus congêneres
formais e grupos diversos de todos os matizes revolucionários e terroristas,
treinados em países como China, Coreia do Norte, Cuba, Tchecoslováquia e
Alemanha Oriental.
Evidentemente, todo esse complexo de interferências do PCUS
em praticamente todos os países também ocorreu no Brasil, aumentando de
intensidade a partir da inauguração da presidência Jânio Quadros, quando
começou o treinamento de guerrilheiros brasileiros em Cuba, e mais ainda com
João Goulart e toda sorte de movimentos esquerdistas.
Para o Ocidente, era evidente o perigo de
expansão comunista em plena Europa Central. O Plano Morgenthau foi substituído
pelo plano Marshall. A Europa Ocidental prosperou, enriqueceu e adotou sistemas
social-democráticos, onde a livre iniciativa produz riqueza e o Estado a
distribui, num equilíbrio mais ou menos estável entre Liberdade e Igualdade que
predomina até hoje. O Ocidente estava salvo do Comunismo.
No entanto, a política expansionista soviética exercia forte
pressão em todos os países do Terceiro Mundo, principalmente sobre colônias
asiáticas e africanas, e países latino-americanos. Uma pretensa revolução
democrática em Cuba logo se revelou ser artifício para mascarar a tomada de
poder pelo Comunismo. O que supostamente poderia ocorrer no Brasil, tendo em
vista o ato de Jânio Quadros ao conceder a mais alta condecoração brasileira ao
Che Guevara.
Assim como em praticamente toda a América, do México à
Patagônia, o Brasil estava submerso em agitações, subversões e conspirações de
dois lados, de um o Komintern e seus sucessores na URSS, China, Cuba, etc., e
suas diversas ramificações lutando para conquistar o poder, do outro, a reação
dos Estados Unidos através da CIA e outras agências e programas de propaganda e
ajuda militar e financeira, entre os quais, apenas para exemplificar, a oferta
de cursos, na New York University, de operações com ações para operadores nas
bolsas de valores brasileiras.
A interferência norte-americana na América Latina vem de
muito longe, passando pela Doutrina Monroe da “América para os Americanos”,
intervenções nas “banana republics” e ajudas econômicas, algumas de efeito
realmente úteis e duradouros, como o “trigo anão” mexicano desenvolvido pela
Fundação Rockfeller a pedido do Departamento de Estado, ou da Companhia
Siderúrgica Nacional, fruto de negociação direta entre Roosevelt e Getúlio
Vargas, em troca do uso da Base Aérea de Natal.
Se a União Soviética se infiltrava e agia nas classes estudantis
e trabalhadoras da América Latina toda, os Estados Unidos cooptavam políticos,
empresário e militares. E estes detinham, desde tempos coloniais, as fontes do
poder: terras, domínio da máquina político-eleitoral e poder econômico num
sistema oligopolista em que grupos rivais do mesmo estamento se revezavam no
comando das nações. Nestes países predominava o capitalismo de compadrio em que
quem estava no poder distribuía cargos, contratos e concessões a seus aliados
em troca de outros tantos favores semelhantes. O livre mercado jamais funcionou
em tais regimes, ao contrário do que ocorria no Norte das Américas, na Europa
Ocidental e nos Tigres Asiáticos. Desta forma, na América Latina, na África e
no Sudeste Asiático havia uma minoria dominante muito rica, pequena classe
média, dividida, mas formadora de opinião e imensa maioria imersa na mais
profunda pobreza, excelente caldo de fermentação de descontentamento e revolta,
de comunismo.
A história dos Estados Unidos da América revela uma nação em constante conflitos de interesses, entre escravocratas e antiescravagistas, monopólios e livre iniciativa, racismo e direitos humanos, machismo e feminismo, etc. A promessa implícita da opção pelo regime capitalista era a possibilidade de solução de tais conflitos por processos democráticos, algumas vezes impostos, nos Estados Unidos, por força armada, institucionalmente democrática, como a Guerra Civil, outras por decisões do Congresso ou da Suprema Corte. Ou seja, os anticomunistas brasileiros acreditavam que o regime democrático capitalista seria intrinsicamente autocorretivo, enquanto os comunistas propunham uma justiça imposta pela ditadura do proletariado.
Acresce que em meados do século XX a sociedade brasileira e
da América Latina era, em sua grande maioria, católica e conservadora nos
costumes e abominava o ateísmo marxista. A grande imprensa e o estamento
político refletiam os sentimentos e os costumes predominantes.
Foi nesse estado de conflito geopolítico entre dois
impérios, Estados Unidos e União Soviética, e de opinião popular e da mídia que
o Partido Comunista Brasileiro, infiltrado o governo Goulart preparava o golpe
para assumir o poder.
Em fevereiro de 1964, soube que um amigo - que eu conhecera
em Fernando de Noronha, onde ele servira como tenente do Exército Brasileiro e
eu, ainda adolescente, passava férias escolares - estava matriculado na Escola
de Estado Maior, já no posto de major. Foi esse amigo que me introduziu à
poesia de Omar Caiam e ao Socialismo, e me emprestou livros sobre marxismo, que
li às escondidas de meus pais.
Fui visitá-lo. Na conversa, o amigo me revelou que o Partido
Comunista Brasileiro estava preparado para assumir o governo, mantendo João
Goulart como figura de frente, mas com o poder nas mãos de Luiz Carlos Prestes
e que ele, meu amigo, assumiria algum posto importante.
Se meu amigo, major do Exército, de modo tão confiante, me
revelava planos secretos do golpe comunista, os serviços de inteligência das
Forças Armadas, certamente, estariam ainda mais bem informados.
As Forças Armadas agiram em resposta ao
clamor popular, da mídia e do Congresso Nacional, e mais ainda, em autodefesa
para evitar a repetição da mortandade da Intentona Comunista de 1935, e o
fizeram impulsionadas pela CIA e as Forças Armadas do Estados Unidos que agiam
não somente no Brasil, mas também em outras nações latino-americanas e mundiais
em luta titânica contra a União Soviética. O Movimento Militar de 31 de março
de 1964, foi uma ação de autodefesa da sociedade brasileira e do poder
norte-americano, institucionalizado com a posse do Senador Ranieri Mazzilli na
presidência da República e fortemente apoiado por multidões em passeatas por
todo o país, por empresários, proprietários rurais, classe média, Igreja
Católica, pelos governadores Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Carlos
Lacerda, pelos Diários Associados e seus rádios, revistas, jornais e emissoras
de TV, O Globo, Rede Globo, Folha de São Paulo, Correio da Manhã, Jornal do
Brasil, O Estado de São Paulo e O Estado de Minas.
A Ditadura Militar, consolidada pelo AI 5 emitido em 13 de
dezembro de 1968, para combater insurgências e guerrilhas de forças comunistas,
ocorreu com a posse na presidência pelo General Costa e Silva, em 15 de março
de 1967, e a morte do Marechal Castelo Branco.
Houvesse prevalecida a opinião de Morgenthau, a Alemanha,
independentemente da vontade de seu povo e de seus líderes retornaria à Idade Média.
Felizmente, para esse país, para a Europa e para o Mundo, visão mais esclarecida
prevaleceu e livrou a maior parte das nações da desgraça do
Comunismo, geopolítica de verdadeiros estadistas, do Presidente Harry S. Truman, com a Doutrina Truman, e do General George
Catlett Marshall, Jr., com o Plano Marshall.
Da mesma forma que a Alemanha escapou da miséria,
do genocídio e do Comunismo, também o Brasil foi salvo pela ação geopolítica
dos Estados Unidos da América, e é isso que a História nos afirma: O Brasil foi
vítima da Guerra Fria.
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