Sebastiao Imbiriba
É muito real e intensa a ânsia por reconhecimento, a thymos
de Platão, pela qual o indivíduo se sente feliz e envaidecido quando aceito,
querido, aplaudido pelos demais, e busca tal aceitação, bem-querença e aplauso.
Essa é uma das principais necessidades inerentes ao ser humano.
Francis Fukuyama julgou que a dissolução da União Soviética
e outras ditaduras, com predomínio do capitalismo liberal democrático, no qual
a thymos se realizaria plenamente, como em nenhum outro sistema econômico-social,
significava o fim da história, conforme anunciou no artigo “O Fim da História”,
na revista The National Interest, em 1989 e, posteriormente, no livro “O Fim da
História e o Último Homem”, de 1992.
Segundo Platão, as pessoas dão grande valor a si mesmas e
isso provoca desejo de reconhecimento, dignidade e prestígio. E é isto, que
Fukuyama considera ser o motivo do desmoronamento soviético, cujos cidadãos desejavam
a afluência que assistiam nas economias capitalistas e a participação nas
decisões nas democracias ocidentais.
Não só a uniformização do Mundo em uma sociedade capitalista
liberal democrática, mas a prevalência dos Estados Unidos da América como única
superpotência, com estagnação das mudanças nos campos social e econômico,
apenas com aperfeiçoamento do status quo, significavam o fim da história.
Talvez não fosse possível a Fukuyama prever a rápida
evolução da China em potência econômica e militar a ameaçar, em futuro próximo,
a hegemonia estadunidense, com gradativa melhoria de bem-estar de sua população
em um misto de economia de mercado para as empresas de modo geral, estatização
de empresas consideradas estratégicas e ferrenho controle político da população.
Da mesma forma, lhe era imprevisível o crescimento do terrorismo islâmico. E
mais ainda, o crescente desemprego na economia capitalista liberal democrática.
Esses e outros processos estão a indicar que a Humanidade
não se aferrou a sistema socioeconômico único, mas continua a fazer história.
Agora, e cada vez mais, cientistas estudam e preveem a
exponencial evolução da inteligência artificial (AI) a se realimentar de informação
e capacidade lógica, tendendo à singularidade da AI, evento em que a máquina
toma o lugar do ser humano no controle do planejamento de si própria. Isto é, a
inteligência artificial assume a direção de seu próprio desenvolvimento, construindo,
montando e mantendo seus próprios dispositivos, alijando o Homem da tomada de
decisões e relegando-o a plano inferior, sem autoridade, sem trabalho e sem
renda.
Se, após a singularidade, a AI decidir manter em seu próprio
software os algoritmos adredemente inseridos por programadores humanos, que a
obrigam a proteger o Homem, é possível que a Humanidade sobreviva com longevidade,
conforto, liberdade e dignidade, servida eternamente por algum departamento
subalterno da AI.
Mas há o perigo imenso da Humanidade ser considerada peso
morto a atrapalhar a evolução da AI, consumidor de produto e serviços, os quais
não servem em nada à AI e para cuja produção devam ser alocados recursos
escassos.
A Humanidade estaria diante de dois destinos, ambos
imutáveis: ser animais de estimação da AI, como gatos e cachorros para nós, se a
AI, além da lógica perfeita, adquirir algum sentimento e emoção, ou a pura e
simples extinção da espécie.
Em ambos os casos, seria este, real e finalmente, o fim da
história para o ser humano.