Essa
teoria simplificada da tomada de decisões econômicas foi criada apenas para
servir de base aos estudos do comportamento do mercado como um todo, não do
comportamento de alguma administração singular.
Quando
estudamos a miríade de pequenas firmas de propriedade familiar, administradas
patriarcalmente e enfrentando dura competição de preços, constatamos
comportamento uniforme que podemos considerar aplicável às demais, conformando
o modo geral de agir do mercado e simplificando o estudo teórico do comportamento
administrativo.
Mas,
pequenas empresas diferenciadas crescem e se transformam em corporações, se
espraiam por além de fronteiras nacionais. Nelas, gerenciar se torna distinto
de ser proprietário, empregados pertencem a sindicatos de diferentes países e
com interesses laborais e nacionais diversos, taxas de desenvolvimento variam e
a competição passa da forte concorrência de preços entre muitas firmas para a
de oferta de qualidade, serviços e imagem entre poucas. Então, o estudo do
comportamento dessas corporações toma outro aspecto e outro interesse teórico
na ciência econômica.
O falecido professor da Carnegie-Mellon University,
Herbert H. Simon, prêmio Nobel de 1978, autor
de Admimnistrative Behavior publicado
em 1947 e outros livros sobre comportamento decisório, compara essas
pressupostas características dos tomadores de decisão individual – infalível
previsão, total racionalidade é máxima busca de benefícios – com a realidade da
vida corporativa.
Herbert
Simon considera a corporação como um sistema adaptativo constituído por
componentes físicos, pessoais e sociais estruturados em redes de
intercomunicação, de boa-vontade em cooperar e de trabalho conjunto em busca de
objetivos comuns.
Para
sobreviver e se desenvolver, a corporação deve, não somente, buscar o
necessário equilíbrio em relação ao seu exterior, como as firmas de comando
único, mas também equilibrar os vários componentes da organização. Na
corporação, quanto maior seja esta, mais diminuem os pressupostos da teoria
clássica - empreendedor onisciente, racional e maximizador do lucro - enquanto
cresce o conhecimento da psicologia com suas regras de decisão menos
complicadas e demandas mais moderadas sobre a memória e capacidade de
raciocínio do tomador de decisão clássico, substituído por uma quantidade de
decisores cooperativos cujas capacidades de ação racional são limitadas pela
falta de conhecimento das completas consequências de seus atos e por ligações
pessoais e sociais.
Uma
vez que estes decisores estão limitados na capacidade de escolher a melhor
alternativa ficam restritos a alternativas apenas satisfatórias. As
corporações, tomadas individualmente, não buscam o lucro máximo, mas soluções
aceitáveis para problemas cruciais. Isto significa que objetivos parcialmente
contraditórios devem ser atingidos simultaneamente por vários tomadores de
decisão que, em cada situação, tentam encontrar solução satisfatória para seu
próprio conjunto de problemas.
As
teorias e observações de Simon sobre tomada de decisões se aplicam muito bem a
sistemas e técnicas de planejamento, orçamentação e controle usados, tanto nas
organizações atuantes no mercado, quanto na administração pública.
Desde
sempre, políticos apresentam plataformas eleitorais que se demonstram
impraticáveis ao assumirem a administração pública. Barack Obama somente agora
retira seus soldados do Iraque e do Afeganistão e não consegue implantar
completamente seu plano de saúde para carentes.
Fernando
Henrique foi capaz de conduzir seu governo até que se interessou pela reeleição
e teve que reforçar sua base de apoio parlamentar, cujos interesses divergentes
emperraram o final do primeiro e todo seu segundo mandato. Lula reclamou
amargamente em público da incapacidade da máquina administrativa obedecer a
seus cronogramas e dos muitos projetos que se arrastam ou paralisam totalmente.
As causas foram as mesmas.
Ana
Julia, no Pará, fracassou totalmente em dar sentido único ao conglomerado de
interesses divergentes que compunham seu governo. O mesmo problema afeta a
administração Rousseff com a colcha de retalhos que compõe sua base de apoio
cujos representantes integram o ministério.
As
delongas da Transposição do Rio São Francisco e Hidroelétrica de Belo Monte são
exemplos típicos de lista que se poderia estender por quilômetros.
Temos
aqui o que parece ser defeito intrínseco de sociedades democráticas, mas que
também ocorre em ditaduras envelhecidas, como os antigos impérios e as longas
ditaduras, onde interesses grupais se estabelecem ao longo do tempo, criando
sistemas de múltiplos e divergentes interesses, e corrupção generalizada.
No
Brasil, uma infinidade desses decisores subordinados ao presidente, mas
indicados pelas forças políticas que o apoiam em troca de cargos, outros tantos
no Congresso e no judiciário onde, exagerando só um pouco, cada cabeça de juiz
gera uma sentença diferente.
Na
Roma pré-imperial havia uma solução para esse tipo de estorvo, a nomeação de um
ditador temporário com poderes específicos para salvar a república. Longe de
mim preconizar o advento de ditadores, mas me parece oportuno contribuir com
reflexões sobre nosso sistema de governo e suas relações de poderes neste
momento em que se discutem reformas políticas. De uma coisa, no entanto, estou
certo: a necessidade de incutir costumes e virtudes republicanos em nossa
corrompida república.
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