28 de setembro de 2007

Desenvolvimento e Sustentabilidade – Parte III

Mamutes congelados

Mastodontes, mamíferos pré-históricos, com altura de três metros e peso de sete toneladas, aproximadamente, muito semelhantes, porém distintos dos mamutes, viveram nas Américas e se extinguiram há cerca de dez mil anos, possivelmente, por oferecerem carne abundante e de boa qualidade aos caçadores primitivos que habitavam estes continentes.

Os mamutes viveram mais, desapareceram da América do Norte, Europa e Ásia por volta de quatro mil anos atrás. A extinção desta espécie pode ter acontecido pelo extremo frio da era glacial cujos últimos anos vivemos hoje. Alguns espécimes foram encontrados contendo comida na boca, a maioria em pé, afundada no permafrost, mistura de neve, terra, lama e vegetação de estepe, ransformada em densa camada degelo.

O fato de estarem em pé denota a possibilidade de terem sido surpreendidos por tempestades de neve na qual afundaram e congelaram. Tais tempestades podem ter baixado a temperatura de forma tão repentina que os animais foram paralizados quando ainda mastigavam o alimento.

O congelamento em pé de mamutes e outros animais comprova a severidade do clima glacial, o que nos leva a cogitar sobre o que seja uma era glacial e quais suas causas.

O planeta Terra viaja pela Via Lactea, acompanhando o Sol, descrevendo quatro movimentos principais: Rotação, Translação, Precessão e Revolução.

Rotação é o giro de vinte e quatro horas da Terra em torno de seu próprio eixo, que origina a sucessão de dias e noites;

Translação é o percurso de 365 dias e 6 horas em torno do Sol, numa órbita levemente elíptica. Devido à inclinação de vinte e três graus e meio do eixo interpolar em ralação à perpendicular ao plano dessa órbita, a incidência da radiação solar sobre os hemisférios Norte e Sul varia dando origem às estações do ano;

Revolução é a viagem redor do centro da Via Láctea em companhia do astro Rei.

Precessão é o movimento resultante das forças gravitacionais diferenciais da Lua e do Sol, perpendiculares ao eixo de rotação da Terra, que fazem os pólos Norte e Sul descreverem círculos completos a cada 25.868 anos, responsáveis pelas eras astronômicas, de 2.240 anos em cada signo zodiacal, fazendo com que a extensão do eixo polar Norte aponte sucessivamente para diversas estrelas referenciais, atualmente, para a Estrela Polar.

Se o movimento de translação provoca as diferentes estações do anos, o de precessão provoca as eras glaciais. A cada meio cíclo, de 12.934 anos, ora um, ora outro, os hemisférios Norte e Sul recebam mais intensamente a radiação solar, aquecendo um enquanto esfria o outro. Desta forma, quando o emisfério Norte esfria, América do Norte e Eurásia se cobrem de gelo enquanto a Antártica descongela, seguindo-se o congelamento da Antártica e dos oceanos que a circundam, enquanto a calota do polo Ártico se trans forma em mar aberto e as estepes canadenses, nórdicas e siberianas verdejam e florescem.

Após cada desgelo ocorrem o florescimento e decaimento da vegetação e, concomitantemente, os ciclos de maior e menor presença de gases de efeito estufa na atmosfera, sendo tal fenômeno mais intenso no hemisfério Norte devido á sua maior extensão territorial.

Assim, durante milhões de anos, têm ocorrido tais ciclos de esfriamento e aquecimento, de surgimento e desaparecimento de vegetação, de concentrção de gases carbônico e metano, de expansão e limitação do desenvolvimento de espécies vegetais e animais, inclusive de hominídeos.

Àqueles que desejam aprofundar o conhecimento sobre a precessão e seus efeitos no clima recomendo a leitura dos trabalhos de   William F. Ruddiman: "A mão do Homem", in Scientific American Brasil, Edição Especial nº 12 Aquecimento, 2005, bem como, "The anthropogenic greenhouse era began thousands of years ago", Department of Environmental Sciences, University of Virginia, 2002.

A Terra encontr-se a meio caminho de completar meio ciclo de precessão. Consequentemente, o hemisfério Norte deveria estar congelado e coberto de neve enquanto o Sul deveria derreter e arder. No entanto, o Norte, tanto quanto o Sul estão aquecidos. A precessão falhou?

Ocorre que aproximadamente no início deste meio cíclo, o ser humano aprendeu a arte da agricultura e começou a utilizar a aluvião dos rios egípcios, mesopotâmicos e chineses para produzir alimento rico e abundante, o que permitiu a esses povos, e outros que os imitaram, a crecer e desenvolver suas tecnologias e artes, passando da idade da pedra para as do bronze e do ferro, a cronstruirem cidades, religiões e sistemas de governo.

O agricultor precisa de chão para plantar, tanto quanto de madeira para seus utencílios e energia para aquecer e cozinhar. Assim, as florestas da Eurásia foram devastadas e a escaces de madeira e outros recursos naturais originou guerras sem conta.

À medida que mais e mais florestas foram derrubadas e queimadas, dando lugar a campos agrícolas, juntamente com o desenvolvimento das culturas úmidas, como a do arroz, e a criação de gado, quantidades crescentes de gas carbônico e metano foram liberadas dando início ao efeito estufa provocando o aquecimento do clima que evitou o congelamento do hemisfério Norte.

Se este aquecimento não houvesse ocorrido, não teria havido condições para o crescimento da população humana nem o desenvolvimento da civilização. A Humanidade estaria ainda na pré-história, abrigada em cavernas, mal alimentada e correndo o risco de extinção.

Este aquecimento pré-industrial permitiu que a Humanidade chegasse ao início do século dezenove apta e ávida por maior desenvolvimento e mais riqueza, iniciando o uso intensivo de materiais não renováveis, tanto os minerais não carbônicos, como o ferro, cobre e chumbo, quanto os combustíveis fósseis: carvão e petróleo.

Começou um novo cíclo de produção acelerada de lixo e toda sorte de poluentes, contaminadores de mananciais, que colocam em risco a vida e, de fato, tem ceifado muitas pessoas, além, é claro, dos gases de efeito estufa, que acelera o aquecimento do clima.

Até o presente momento, em termos de crescimento populacional, de aumento da longevidade, da diminuição de doenças, da ignorãncia e da fome, os resultados têm sido positivos, apesar dos grandes males que ainda pesam sobre grande parte da Humanidade. Portanto, o aquecimento tem sido benéfico. O Homem não teria atingido o estágio atual sem este importantíssimo fator. A grande dúvida é se esse aquecimento pode progredir sem reversão das expectativas benéficas. Aqui está o desafio para a ciência. Mas tal resposta ainda não foi apresentada.

 

Desenvolvimento e Sustentabilidade – Parte II

Síndrome de Rapa Nui

Rapa Nui, nome nativo da ilha de Páscoa, é caso emblemático do destino dos desatinados que usam a Natureza de modo inconseqüente. Não há dúvidas quanto à existência, nessa ilha, de árvores e palmeiras que serviram como trenós, trilhos, roletes e alavancas necessários ao transporte e levantamento de portentosas estátuas, os gigantescos Moais de pedra.

A população dessa pequena ilha isolada do resto do Mundo, no centro do Pacífico do Sul, a meio caminho entre o Chile e a Polinésia e a mais de dois mil quilômetros da população mais próxima, cresceu e exauriu seus recursos naturais além da capacidade de auto-sustentação. O resultado foi a devastação da floresta até a última arvore e o esgotamento da terra desnuda pela erosão dos ventos e da chuva.

A luta pela sobrevivência, num ambiente exaurido, derivou para a mortandade. A população, que alguns pesquisadores estimam ter alcançado dez mil habitantes, foi quase totalmente dizimada. Quando o navegador holandês, almirante Roggeveen, a encontrou no dia da Páscoa de 1722, não havia mais do que uma ou duas centenas de pessoas na ilha.

Era uma população isolada na vastidão do Pacífico. Embora seus ancestrais fossem navegadores, bons o suficiente para encontrar e povoar aquela ilha remota, a população remanescente não podia navegar mais do que uns poucos metros além da praia com seus botes construídos com desconjuntados pedaços de madeira antiga e desgastada, amarrados com fibras e sem calafeto. Não havia, naquela ilha, os materiais necessários à construção de barcos de longo curso.

Sem terra agricultável e sem barcos pesqueiros, não havia como alimentar os habitantes. As conseqüências da Síndrome de Rapa Nui nos fazem temer a exaustão dos recursos naturais da Terra, nos aconselha parcimônia e prudência no uso deles, além de muito esforço de pesquisa científica para que possamos julgar e agir com objetividade e conhecimento de causa, para encontrar substitutos às matérias primas esgotadas e alternativas aos atuais modos de viver e consumir. Uma excelente reconstituição de fatos pré-históricos na ilha de Páscoa é desenvolvida por Jarred Diamond in Colapso, Editora Record, 2005.

Em nossa vida como indivíduos, nações ou a própria espécie humana temos, a cada momento, de priorizar valores em decisões, por vezes, muito difíceis. Como a do cirurgião ao decidir se salva a mulher em complicado trabalho de parto ou a criança por nascer. A Humanidade tem de tomar o mesmo tipo de decisão com relação às florestas e outros recursos naturais, diante do risco de perder valores tão importantes quanto elas.

Uma dessas decisões é a que hoje (2007) se discute: a proposta do Presidente dos Estados Unidos da América de permitir que a indústria madeireira abra grandes aceiros nas florestas públicas daquele país, com dois objetivos: evitar a propagação de grandes incêndios, o que seria útil para as próprias florestas e aumentar a produção madeireira o que seria benéfico para os desempregados e para os consumidores, além de diminuir a poluição do ar e propagação dos incêndios para áreas urbanas.

Diante da imensidão das queimadas em todo o Brasil, em especial na Amazônia, decorrente da pequena umidade do inverso setentrional, cabe perguntar se não seria o caso de adotar, pelo menos experimentalmente, tal medida em nossas florestas.

A discussão, amplificada pela mídia, no entanto, se processa muito mais no plano emocional. Isto se deve ao profundo sentimento de perda que todos sentimos por tão grande destruição. O debate deveria estar em plano científico, objetivo, para que possamos mensurar prós e contras e avaliar até que ponto essa medida seria útil e eficaz, ou se, por outro lado, não seria um passo adiante a caminho da manifestação global da Síndrome de Rapa Nui.

Pode a Humanidade sobreviver sem a floresta? Não somente é provável que possa, como é certo que a vida na Terra tenha existido alguns milhares de anos sem elas. Nos dias de hoje, em algumas regiões do Ártico e do Saara, existem populações sem florestas.   Durante os milhares de anos dos Períodos Glaciais, grande parte do Mundo todo esteve privado de florestas, pelo menos as do tipo que encontramos na Amazônia.

A floresta é bem de alto valor para a Humanidade, mas talvez não seja necessidade absoluta imediata como é, por exemplo, o ar que respiramos. A destruição do ar pela poluição provoca imediata sufocação, graves doenças respiratórias, desconforto insuportável. O mesmo não ocorre ao se derrubar uma árvore ou destruir a floresta inteira cujo efeito só será sentido muito depois. É essa falta de resposta imediata da Natureza, ou de percepção instantânea de seus efeitos pelo Homem que permite a este continuar a se ariscar a provocar a grande e global Síndrome de Rapa Nui.

Podemos, portanto, concluir que embora sejam de extrema utilidade, não só pelo que representam e produzem por elas mesmas mas pela biodiversidade que suportam, a Humanidade poderia sobreviver sem florestas. O que não sabemos é por quanto tempo.

 

Desenvolvimento e Sustentabilidade - Parte I

Lógica versus Emoção

Ao término de quase um ano dedicado ao estudo e à reflexão sobre a sustentabilidade da civilização ocidental e seu papel como paradigma do desenvolvimento mundial , preocupado com as ameaças que pesam sobre a Amazônia, inclino-me a discorrer sobre tema de tanta relevância para nosso futuro, para a definição do tipo e qualidade de vida que desejamos e o que seria realizável, para obtê-los, sem prejudicar a sobrevida de nossa espécie.

Na série de artigos que agora inicio, começarei por apresentar um pequeno rol de leis fundamentais que regem o Universo, a Cosmologia, a Física, a Química, as Ciências Naturais, de forma geral, pois que estas regulam o funcionamento da própria vida e, por conseqüência, da produção de todo tipo de bens, essenciais ou não a ela. As ciências exatas, como o nome diz, buscam descrever o Universo com a melhor precisão possível e são muito mais confiáveis do que as Ciências Humanas.

Arthur Koestler, in The Act of Creation (Arkana, London, 1984, pg. 332), posiciona diversas áreas do conhecimento segundo os respectivos graus de objetividade. O autor discorre sobre o tema com grande precisão lógica, profundidade científica e beleza literária.

Quanto maior a objetividade de uma matéria, maior sua verificabilidade, isto é, melhor pode ela ser comprovada por métodos matemáticos e, portanto, maior a certeza. Por outro lado, quanto menor a objetividade, maior a componente emocional, maior a dificuldade em exprimi-la por meio de equações e, portanto, maior a incerteza. As ciências denominadas exatas possuem maior grau de objetividade, verificabilidade e certeza, em contraposição ás ciências humanas, sempre submetidas a alto grau de subjetividade.

Quanto mais estatísticos sejam os procedimentos matemáticos que definem as leis de um determinado ramo da ciência, mais este apontará tendências, em lugar de fatos. É por isto que as Leis de Newton são tão precisas e as predições da Meteorologia tão aproximativas. Esta inexatidão nos aconselha a duvidar da certeza nas profecias apocalípticas que apregoam o próximo fim da humanidade pelo aquecimento global. Por outro lado, não podemos ignorar que as probabilidades de que muitos cataclismos aconteçam é realmente muito alto.

No entanto, não seria possível entender os fenômenos da civilização ocidental e, mesmo, as das demais civilizações, as atuais e as do passado, apenas com base nas Leis Naturais, sem analisar a evolução histórica dos fatos sociais e econômicos, sem considerar ciências associadas a fenômenos culturais e psicológicos.

É o conjunto do conhecimento humano, disciplinado pela metodologia científica, que nos permite prosseguir na busca das possíveis soluções para a estagnação, ignorância e pobreza dos povos da Amazônia, dos caminhos que nos conduzam ao conhecimento e à informação específicos da região, à prosperidade e a abundância.

Um dos benefícios de uma sociedade se encontrar atrasada em relação a outras, como o Brasil em ralação às sete maiores potencias econômicas mundiais, é poder observar os bons e maus métodos adotados por estas, selecionar o que possa ser útil e evitar os erros, assim como, dar saltos tecnológicos, posicionando nossos sistemas produtivos em posição de competitividade perante indústrias a caminho da obsolescência dos países mais desenvolvidos.

Observar o comportamento das nações mais desenvolvidas nos ajudará a evitar desperdícios e otimizar a eficiência ecológica, além de permitir encontrar procedimentos metodológicos e tecnológicos capazes de aumentar nossa eficiência econômica. Neste aspecto, é de extrema importância o exame acurado da história sob a ótica ecológica. É por isso que, aos fundamentos científicos, associo alguns aspectos da História, da Sociologia e das tendências evolutivas da Humanidade. Alguns dos fenômenos mais importantes a serem estudados encontram-se na área da Ecologia e, para ressaltá-los, formulo o conceito da "Síndrome de Rapa Nui", que descreve o uso indiscriminado dos recursos naturais até que, exauridos, não mais pudessem sustentar a população de Ilha de Páscoa.

Japão, América do Norte, Europa constituem sociedades afluentes, com altos índices de qualidade de vida. Não é justo e não há porque acreditar que amazônidas devam ser condenados à miséria, à condição de meros mantenedores de sorvedouros do carbono que outros fazem jorrar na atmosfera. Certamente, há barreiras a serem vencidas, caminhos a serem trilhados, métodos e processos produtivos que nos conduzam à felicidade.